19.05.25 | Brasil 211m2p
“Indignação seletiva” 6a5k
Editorial de O Estado de S.Paulo, publicado no sábado (17), critica as declarações do presidente Lula, que voltou a acusar Israel de cometer genocídio em Gaza, “a pretexto de matar terroristas”. “As acusações de genocídio começaram antes mesmo do revide ao Hamas. Já as condenações ao Hamas foram sempre elusivas, genéricas e relutantes. Lula evita tanto quanto pode chamar o grupo pelo que ele é: uma organização terrorista, teocrática, genocida, inimiga da humanidade e, sobretudo, do povo palestino”. “Tampouco reconhece o papel do Irã, que financia o Hamas e milícias similares”. Leia a seguir a íntegra do texto:
Mal desceu da tribuna na Praça Vermelha após o festim militar de Vladimir Putin, Lula da Silva voltou a acusar Israel de “genocídio”. Não foi um deslize, mas a reafirmação de um discurso parcial, ideológico e temerário. Ao repetir essa acusação sem base jurídica, Lula compromete a já surrada credibilidade diplomática do Brasil.
“Na Faixa de Gaza é um genocídio de um exército muito bem preparado contra mulheres e crianças a pretexto de matar terroristas”, disse o presidente em conversa com jornalistas no dia 10 ado.
Chamar de genocídio a campanha militar israelense é mais que exagero: é deturpação. Genocídio exige intenção deliberada de exterminar um povo – o que não se aplica à guerra iniciada após o massacre do Hamas. Os meios de Israel são íveis de reprovação, mas seus objetivos – libertar reféns, eliminar arsenais e neutralizar o Hamas – são defensáveis e justos. Comparar tais ações ao “Holocausto”, como já fez o petista, é ofensivo às vítimas do nazismo e uma infame banalização da História.
Lula ignora crimes mais evidentes, como os de Putin na Ucrânia. Suas palavras, ditas durante a celebração imperial russa, contrastam com seu silêncio sobre crimes como o sequestro de milhares de crianças pelo “companheiro” Putin.
A hostilidade do lulopetismo a Israel antecede a guerra de Gaza. As acusações de genocídio começaram antes mesmo do revide ao Hamas. Já as condenações ao Hamas foram sempre elusivas, genéricas e relutantes. Lula evita tanto quanto pode chamar o grupo pelo que ele é: uma organização terrorista, teocrática, genocida, inimiga da humanidade e, sobretudo, do povo palestino.
Tampouco reconhece o papel do Irã, que financia o Hamas e milícias similares. A foto do vice-presidente Geraldo Alckmin em Teerã ladeado por jihadistas ilustra uma diplomacia que perdeu o norte moral. Não haverá paz no Oriente Médio sem enfrentar o papel desestabilizador do Irã – mas Lula prefere o silêncio.
Seu pacifismo é retórico. Fala muito, mas nada propõe. Que ideias Lula tem para envolver os países árabes moderados? Que pressão faz sobre Estados que sustentam o Hamas? Que planos tem para corredores humanitários ou desmilitarização? Limitado a platitudes sobre “cessar-fogo”, aplica sempre uma lógica assimétrica de críticas.
Sua diplomacia seria apenas folclórica, não fosse danosa. O Brasil não tem força militar nem peso econômico para mediar grandes conflitos, mas poderia se valer de uma reputação moral que tem sido dilapidada por quem confunde protagonismo com exibicionismo.
E onde poderia, de fato, influenciar, como na América Latina, Lula se omite. Maduro, Ortega e os generais cubanos são tratados com deferência. Prisões políticas, perseguições religiosas, execuções sumárias são ignoradas. Quando não silencia, Lula inverte responsabilidades: culpa os EUA pelo êxodo venezuelano, o embargo pela miséria cubana e o “imperialismo” pelas tensões regionais.
Sua indignação é seletiva. Chama genocídio a uma guerra justa, mas silencia sobre quem, de fato, sequestra crianças. A fala de Lula em Moscou não ajuda a causa da paz nem a dos palestinos. Serve apenas à sua vaidade.