22.04.25 | Brasil 6k271s
“Conflito no Oriente Médio resulta em avanço do antissemitismo no Brasil” 4r216r
Editorial de O Globo, publicado no sábado (19) cita o relatório recém-lançado pela CONIB, a Federação Israelita do Estado de São Paulo e o Departamento de Segurança Comunitária (DSC/FISESP) que registrou aumento alarmante de 350% nos casos de antissemitismo no Brasil em 2024. Segue a íntegra do texto:
Tem sido alarmante o avanço do antissemitismo no Brasil, constatado no último relatório da Confederação Israelita do Brasil (Conib) e da Federação Israelita de São Paulo (Fisesp). Seguindo a metodologia consagrada de acompanhamento das manifestações antissemitas, o relatório registrou 1.788 denúncias em 2024, ante 1.410 em 2023 e apenas 397 em 2022. O gatilho que disparou a onda atual de antissemitismo foi o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023, seguido pela reação militar israelense. Na média, as denúncias saltaram de uma para cinco por dia.
“O Brasil foi o país que apresentou a maior taxa de crescimento do antissemitismo após os ataques de 7 de outubro”, afirmou Claudio Lottenberg, presidente da CONIB. É certo que o brasileiro tem percepção predominantemente favorável dos judeus (68%, ante média regional de 49%), segundo levantamento da Anti-Defamation League citado no relatório. Ainda assim, 41,2 milhões de brasileiros têm “crenças antissemitas significativas”. Entre essas crenças, 55% acreditam que judeus têm muito poder no mundo dos negócios, 35% pensam que controlam os assuntos globais e 20% que são responsáveis pela maioria das guerras.
O antissemitismo do brasileiro se estende por um espectro que vai desses estereótipos até o negacionismo do Holocausto (expresso por 11%) ou a versão moderna que disfarça o ódio a judeus na roupagem socialmente aceita do antissionismo, do apoio a Hamas e congêneres (75% acreditam que os judeus brasileiros são mais leais a Israel que ao Brasil, e 24% dos jovens apoiam o boicote a produtos israelenses).
O relatório elenca exemplos: pichações responsabilizando judeus por atos de Israel, com incitação à morte de judeus ou “sionistas”; agressões nas ruas e em salas de aula; cartazes com apologia ao nazismo ou bandeiras com suásticas associadas a Israel; apologia ao Hamas e declarações defendendo o fim de Israel. Com a guerra no Oriente Médio, as redes sociais se tornaram o principal palco para agressões, concentrando 73% dos casos. De 3,6 milhões de menções ao conflito monitoradas pela Conib, quase 85 mil (2,4%) tinham caráter antissemita.
Entre as redes sociais, o X se tornou um refúgio para antissemitas contumazes depois que suspendeu a moderação. É sintomático que o único momento no ano ado em que as menções favoráveis aos judeus superaram as desfavoráveis no meio digital ocorreu em setembro, quando o X ficou fora do ar no Brasil por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).
O brasileiro sempre foi um povo receptivo aos diferentes povos e tolerante às diferentes religiões. Aqui, o convívio entre judeus, cristãos e muçulmanos costuma ser pacífico. Mas, infelizmente, o combate crescente ao racismo, à homofobia e a outros preconceitos tem se revelado ineficaz contra o antissemitismo. E a chaga só tende a se alastrar num ambiente em que o próprio presidente da República faz uma declaração de cunho antissemita, é tratado com leniência e nem sequer esboça um pedido de desculpas.