29.01.25 | Mundo 362m44

Historiadora destaca a importância da educação para entender o que foi o Holocausto 1c4s6z

A historiadora e professora da USP, Maria Luiza Tucci Carneiro, uma das maiores especialistas em Holocausto, diz que lembrar o Dia Internacional em Memória às Vítimas do Holocausto este ano ganha maior relevância e ressalta que a memória do genocídio nazista “diz respeito também ao Brasil”.

Para ela, a data ganha uma nova relevância devido ao ataque do Hamas de 7 de outubro contra Israel, do aumento recente do antissemitismo no mundo e das comparações entre a ofensiva de Israel em Gaza e o Holocausto.

Em entrevista ao site RFI, ela destaca que o antissemitismo não surgiu depois do 7 de outubro e nem na Segunda Guerra Mundial. “Nós temos que lembrar que o Holocausto resultou da persistência de uma mentalidade racista secular. Daí o conceito que eu tenho usado nos meus livros, é um racismo de raiz, é um antissemitismo de raiz”, diz.

Tucci Carneiro ressalta a importância do dia 27 de janeiro. “Não podemos permitir o apagamento dessa memória que não é só prestar homenagens aos mortos e aos sobreviventes. No conjunto, eu vejo como uma importante estratégia de prevenção de genocídios futuros e também alertando para o que acontece hoje em Gaza”. Relembrar é “uma forma de investir contra os negacionistas que insistem na tese de que Holocausto não aconteceu ou que a atual guerra em Gaza é um genocídio praticado por Israel”, enfatiza.

Centro e vinte judeus brasileiros foram entregues pela França à Alemanha nazista e o governo brasileiro manteve circulares secretas de 1933 a 1949 barrando a entrada de judeus europeus no país. Por isso, a historiadora ressalta que a memória do Holocausto “diz respeito também ao Brasil”. Ela considera “uma forma também de colaboracionismo com Alemanha nazista o governo brasileiro não ter acolhido refugiados em função das circulares secretas”.

Para ela, o 7 de outubro de 2023 realmente interferiu e deu uma nova relevância à data do 27 de janeiro, que é um dia importante de rememoração em memória das vítimas do Holocausto. Quando nós falamos de uma nova relevância, eu ressalto que essa nova relevância pode ser vislumbrada sobre alguns aspectos. Primeiro, porque o 7 de outubro acarretou uma proliferação do antissemitismo no mundo. Após esse ataque, nós também percebemos que houve uma mudança de paradigma com relação ao conceito de genocídio, veja bem, que é um conceito distinto dos crimes contra a humanidade e crimes de guerra. Temos que considerar também o que foi o Holocausto. É importante lembrar que ele foi um genocídio singular. Não único, lógico, porque nós tivemos, infelizmente, muitos outros que adentram o século 21. Nós temos que pensar que aquele evento a partir de 1933, foi um genocídio arquitetado, com objetivos declarados, acobertados até, podemos dizer, idealizado, planejado e executado pela Alemanha nazista, e países que colaboraram, com um objetivo bem claro de exterminar judeus, ciganos, deficientes físicos, mentais e dissidentes políticos, entre os quais os Testemunhos de Jeová.

“Ressalto o importante papel da educação no sentido, não só de preservar a memória, mas também de saber por que e como estudar o Holocausto sem confundir com genocídio. O conceito, a palavra Holocausto, em vários momentos foram deturpados. Eu espero que a data do 27 sirva para informar e também conscientizar a população, não só brasileira, da importância de se reconstituir esse ado para entender também um pouquinho melhor o que acontece hoje na Faixa de Gaza. Essa conscientização nos serve de alerta. Muitas vezes as informações acabam sendo deturpadas aproveitando-se da ignorância e desinformação, daí o papel importante da educação”, adverte.

Um outro elemento que devemos considerar nos dias de hoje é que esse antissemitismo não surge ou surgiu a partir da data do 7 de outubro. Ele tem raízes seculares. O que nós percebemos é que houve de uma mutação no discurso, isso sim, e ao mesmo tempo o fortalecimento das acusações antissemitas. Em primeiro lugar, nós temos que lembrar que o Holocausto resultou da persistência de uma mentalidade racista secular. Os discursos que nós ouvimos hoje acusando Israel, acusando os judeus de uma forma generalizada, essas acusações foram gestadas há séculos. Daí o conceito que eu tenho usado nos meus livros, de um racismo de raiz, é um antissemitismo de raiz. Também temos que considerar, e até justificando por que não devemos usar o termo Holocausto para o que acontece em Gaza hoje, que o local de extermínio foi planejado. Foi planejado por uma nação culta que era no século 19 uma referência no campo das ciências, das artes, da filosofia, da tecnologia. Por que Auschwitz? Porque exatamente esse campo representou e representa até hoje uma versão acabada daquele laboratório que foi construído para matar em nível industrial, em série, planejado. É muito importante que sejam preservados, não só os testemunhos, mas também a preservação física dos campos de concentração e de extermínio. Nós não podemos permitir o apagamento dessa memória, daí a importância do 27 de janeiro.


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