06.12.24 | Mundo 6c84g
“A culpa é de quem?” 196z19
Artigo de André Lajst, cientista político e presidente-executivo da StandWithUs Brasil, Bruno Bimbi, jornalista, escritor e ativista LGBT, e Daniel Kignel, advogado e diretor jurídico da Fisesp, na Folha de S.Paulo desta quinta (5) aborda as críticas a Israel pela guerra em Gaza e lembra que outros conflitos no mundo mataram milhares de civis e quase não são lembrados. “Israel não ‘assassina crianças e civis para se vingar’. A guerra não é contra os palestinos, mas contra o Hamas (que não aceita a solução de dois Estados!). Os reservistas das Forças de Defesa de Israel não arriscam a vida por vingança, mas para proteger o país de outro 7 de outubro de 2023”, diz o texto. Segue a íntegra:
O conflito de Darfur, no Sudão, matou quase meio milhão de pessoas em 20 anos, a maioria civis. No Iêmen, foram 400 mil desde 2014, quando a capital, Sanaa, foi tomado pelos houthis, financiados pelo Irã. Na Síria, meio milhão desde 2011. Há milhões de refugiados, mas não há manifestações nas ruas do planeta.
De quem é a culpa? Será que o ex-ministro Carlos Marun, autor do artigo "O começo, há três décadas" (25/11), publicado nesta Folha, poderia responder? E você, leitor? A maioria sabe que não sabe. Já sobre o conflito entre árabes e judeus (que desde 1948, após várias guerras, causou menos vítimas do que aquelas guerras), todos opinam. A maioria com mais paixão e radicalismo do que com história e geografia.
Marun nega a responsabilidade do Hamas pela guerra na Faixa de Gaza. Como se o maior massacre de judeus por serem judeus desde o Holocausto nazista fosse um detalhe. Não menciona os reféns — entre eles, crianças, idosos e um bebê. Reduz um século de história a um simplismo incabível: tudo começou após os acordos de Oslo, quando os palestinos aceitaram a paz e os judeus mataram o então primeiro-ministro Yitzhak Rabin, elegeram Binyamin Netanyahu e radicalizaram.
Sério? O assassinato de Rabin por um extremista judeu, em 1995, foi um pesadelo. Mas Oslo não foi a primeira nem a última vez que Israel ofereceu paz.
Em 1947, os judeus aceitaram a partilha da ONU: dois Estados. Os árabes, não. No ano seguinte, responderam à independência de Israel com uma guerra de extermínio. Perderam. A Faixa de Gaza foi ocupada pelo Egito; a Cisjordânia e Jerusalém oriental, pela Jordânia; mas não criaram o Estado palestino.
Em 1967, após a Guerra dos Seis Dias — provocada pelos árabes —, um Israel vitorioso ofereceu voltar às fronteiras anteriores em troca da paz. A resposta foram "três nãos" na conferência de Estados árabes realizada em Cartum, no Sudão: "Não à paz, não ao reconhecimento de Israel, não às negociações". Mais uma guerra, em 1973, iniciada por Egito, Síria e Iraque no dia mais sagrado do judaísmo, o Yom Kippur. Perderam. Em 1979, o Egito aceitou a paz, e Israel devolveu o Sinai. Em 1994, foi a vez da Jordânia.
Quando o Hamas cometeu seu massacre, em 2023, Israel e Arábia Saudita anunciariam seu acordo de paz, na sequência de Emirados, Bahrein e Marrocos, em 2020, pelos Acordos de Abraão.
Marun cita o assassinato de Rabin e a eleição de Netanyahu como prova da má vontade israelense. Omite, porém, que Bibi foi derrotado três anos depois por Ehud Barak, que ofereceu a Yasser Arafat, em 2000, a criação de um Estado palestino em Gaza, Cisjordânia e parte de Jerusalém oriental. O líder palestino não quis, e a resposta foi a Segunda Intifada: atentados sanguinários e milhares de mortos.
Omite que, em 2003, Ariel Sharon apertou a mão do primeiro-ministro palestino, Mahmoud Abbas, em Aqaba, na Jordânia, e acordaram a criação, em três anos, do Estado palestino. Dias depois, terroristas do Hamas, Jihad Islâmica e outros, chamando Abbas de traidor, atacaram o posto fronteiriço de Erez e, na sequência, duas bombas num ônibus mataram 16 pessoas em Jerusalém. A violência terrorista só cresceu. Ainda assim, em 2005, Sharon entregou a Faixa de Gaza à Autoridade Palestina, desmantelando os assentamentos judaicos, e cogitava fazer o mesmo com a Cisjordânia.
Mas o Hamas deu um golpe em Gaza em 2007, instaurou uma ditadura militar e começou a atacar Israel. Marun omite que, em 2008, outro primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, ofereceu a Abbas um acordo para criar seu Estado, ainda mais vantajoso que o de Ehud Barak; e outra vez "não". Quantas oportunidades foram perdidas?
As acusações do autor são falsas: Israel não "assassina crianças e civis para se vingar". A guerra não é contra os palestinos, mas contra o Hamas (que não aceita a solução de dois Estados!). Os reservistas das Forças de Defesa de Israel não arriscam a vida por vingança, mas para proteger o país de outro 7 de outubro de 2023.
É trágico: nas guerras morrem civis. Esta começou com o massacre de 1.200 e o sequestro de outros 250 pelo Hamas. Israel faz mais do que qualquer país para proteger os civis e, por isso, em Gaza, há menos mortos do que nas demais guerras; apesar do esforço do Hamas para que sejam mais. "Assassinato" foi o que os terroristas fizeram quando praticaram tiro ao alvo contra jovens numa festa e, depois, casa por casa, executaram famílias inteiras a sangue-frio.
Os fatos ainda existem. Também os reféns e suas famílias. Foi por isso que esta guerra começou.