16.09.24 | Brasil 8v15

“Universidade não é tribunal de ideias” 45yq

Em artigo na Folha de S.Paulo desta segunda (16), a jornalista Lygia Mari, mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, critica a atitude da UnB de cancelar a realização de um curso, que seria ministrado por Jorge Gordin, um professor da Universidade Hebraica de Jerusalém. “Censura no meio acadêmico revela não só autoritarismo, mas incompetência na produção de conhecimento”. “E a situação fica ainda mais surreal quando se sabe que o curso não teria relação com a guerra em Gaza. Gordin é especialista em política na América Latina”. Leia a seguir a íntegra do texto:

Não é só o Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal, que vem cerceando a liberdade de expressão nos últimos anos. O ambiente acadêmico também tem sido autoritário nessa seara, o que causa perplexidade.

Afinal, sabe-se que o poder de polícia estatal tende sempre a buscar a ampliação de seu controle sobre a sociedade —se não o alcança plenamente, isso se deve ao sistema de freios e contrapesos e à esfera do debate público das democracias liberais.

Já as universidades são o lugar por excelência do pensamento livre. Logo, nelas, a censura não pode ter vez. Mas foi justamente censura o que se viu no caso do cancelamento do curso que o professor Jorge Gordin, da Universidade Hebraica de Jerusalém, ministraria neste mês na Universidade de Brasília (UnB).

Tal qual a patrulha ideológica de regimes totalitários, alunos vasculharam opiniões antigas de Gordin sobre Israel nas redes sociais. Acharam apoio às Forças Armadas do país e, com isso, acionaram o Diretório Central dos Estudantes e o Comitê de Solidariedade à Palestina do Distrito Federal para realizarem um protesto.

O Instituto de Ciência Política da UnB cancelou o curso. Em nota, alegou que a medida visa "garantir a segurança da comunidade universitária" e afirmou seu "compromisso com o diálogo respeitoso, a liberdade de expressão e a liberdade acadêmica".

Não sei o que o instituto entende por "diálogo" e "liberdade", mas impedir a realização de um curso universitário devido a ameaças de estudantes à segurança no campus não remete ao significado desses termos.

A situação fica ainda mais surreal quando se sabe que o curso não teria relação com a guerra em Gaza. Gordin é especialista em política na América Latina.

O episódio vexatório soma-se a outros em universidades pelo país e revela não apenas a postura autoritária do corpo discente, mas uma incapacidade de colocar em prática as ferramentas necessárias para a produção de conhecimento, que deveriam ser trabalhadas no meio acadêmico: racionalidade, retórica e confrontação de dados e opiniões por meio do debate aberto.

Universidade não é tribunal de ideias, mas laboratório.


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